domingo, 22 de dezembro de 2024

 agora vem o natal,

a lista de presentes com a promessa de um ano novinho em folha logo ali

não adianta, pra mim eu vejo uma lapada na cara de repetição,

de enganação de um "novo"que é velho e mais cansado na verdade.

o povo tá cada dia mais olhando pra si - isso é bom quer dizer era pra ser bom,

mas acontece que parou de ver o outro.

olham só para si, fazem as coisas só por si, pensam somente em si.

como que vive num mundo assim?

tá difícil e não tô conseguindo fazer digestão.

vou deixar a casa limpa, abrir as janelas e trocar a roupa de cama pra ver se algo muda.

tô cansada desse mundo onde tem que atualizar o tempo inteiro.

vou com a roupa antiga, o mesmo pó, o mesmo cheiro para o mesmo lugar e pretendo tomar o mesmo espumante.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

 o final do ano vem meio avalanchado

um cansaço grande para no corpo,

segunda-feira já parece sexta 16hs da tarde e assusta

tento respirar devagar

tento ter pausa / ter tempo

ameaço olhar pro céu, mas não consigo

calor com cheia de chuva

mas o peito tá esvaziado

tento não desiludir, não desistir

coração meio machucado, desiludido e ainda assim meio esperançoso de não sei o quê segue um passo após outro.


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

 Quarta-feira

Eu sempre me surpreendo nas quartas-feiras, hoje enquanto lia um texto dizendo sobre os processos de saúde-doença e os diferentes fatores que influenciam como distribuição de riqueza e de renda, emprego, salário, acesso à terra, ambiente, cultura, esporte, lazer, segurança pública,  assistência social e saúde chegou Luan*, 11 anos, criança que tem uma deficiência física aparente e que sonha em ver “os Rosas”. Luan mora em uma região de alta vulnerabilidade de BH.

O BeFlay Hall nos presenteou com duas cortesias para ele e um familiar assistirem o show.

Hoje uma criança de 11 anos veio no postinho para um atendimento e saiu com ingressos para um evento cultural e uma alegria que não cabia em si.

*nome fictício 

domingo, 11 de agosto de 2024

 Sou uma mistura de arte, confusão, amor, dor, saúde e uma pitada de caos.

Sinto-me torta em muitos momentos e estou já há algum tempo aprendendo a deixar as linhas tortas, deixar que elas me façam cócegas.

Tento deixar as janelas abertas pra sentir o vento (por vezes fecho todas).

Estar na saúde e no teatro tem sido algo importante para mim há alguns anos, gosto quando consigo mesclar os dois – gosto da potência do som que nasce. 

Tenho certo encantamento pela loucura.

 Centro de Saúde #postinho #SUS

tenho atendido tanta ausência de pai escancarada no postinho,

vocês pais deveriam repensar isso seriamente.

nas crianças as ausências e os combinados não cumpridos machucam severamente.

tem uma que toda vez que atendo me diz "eu acho que estou escutando a voz dele lá fora"

a outra : "ele parou de falar comigo, antes ele me ligava..."

e tantos outros e outras... enfim.

dá um desânimo da porra!

melhorem!



Centro de Saúde #postinho #SUS

Ando atendendo uma menina de nove anos que durante a pandemia parou de falar, assim, falar ela fala mas somente com a mãe, pai, avó e uma amiga, não emite sons com mais ninguém.

em atendimento apresenta-se quase sempre com certa apatia, algo mais desvitalizado ao mesmo tempo que com uma atenção e uma curiosidade atenta.

tem histórico de um possível abuso quando pequena;

tem presença bonita da mãe e do pai.

no início eu não sabia muito bem o que fazer e me angustiava, mas fui entendendo que sustentar minha presença ali e meu interesse por ela foi fazendo algo acontecer.

sempre que pergunto se quer voltar faz que sim com a cabeça;

outro dia elogiei a blusa de frio rosa com unicórnios e logo a percebi abrindo a mesma para me mostrar que a blusa de baixo combinava,

noutro ao deixar lápis de cor na mesa e ela iniciar o colorir eu logo vi que seu aniversário chegava e comecei a perguntar sobre e ZAZ : as palavras surgiram escritas no papel!!!!!  (quase caí da cadeira!)

ela escreveu cinema + torta salgada + o nome de alguma colega;

pedi permissão para conversar com a mãe sobre e ela me deu ok - logo a mãe já me disse : hmmmm então ela quer levar a fulana! Ah, a torta salgada é uma de catupiry e frango, é perto do shopping cidade, então vamos ter que ir ver o filme lá!

ela desenha muito, já ofertei algum curso no SESC ou algo assim, mas ainda não se interessou.

é claro que a galera mediceners já colocou ela na caixinha do autismo,

seguimos nas nossas descobertas, presenças e retornos.

sem rôtulos.



quarta-feira, 7 de agosto de 2024

 Centro de Saúde #postinho #SUS

andei atendendo uma criança de sete anos que sempre quando lembro acho que tinha onze,

onze porquê pra mim no sete não cabe tanto abandono e descaso,

no onze também não, óbvio!

mas no sete... poxa vida !

nos sete a criança começa a compreender conceitos mais complexos na matemática,  já escreve seu nome, consegue fazer atividades de vida diária com autonomia, começa a ver o outro e compreender empatia.

a mãe faleceu quando ele ainda era muito miúdo, a família materna ficou com seu irmãozinho mais novo, com ele não;

ele ficou com o pai ora com a mãe do pai;

esse pequeno no meio de um jogo com figuras me contou com tranquilidade que tinha uma cachorra mas que a mesma estava com "peladeira" e matou ela a paulada junto ao pai;

num próximo dia chora de urrar no consultório a ausência do pai, que precisou sair do território por estar em risco, o que fiz foi sentar no chão ao seu lado e ser presença - mesmo que silenciosa, tentando acolher essa dor.

em seguida eu soube que ele fugiu da escola, em seus plenos sete anos, e foi parar em um bairro distante buscando o pai.

recentemente me contaram que a avó paterna o levou para abrigamento e para convencê-lo a ir ao Conselho Tutelar disse a ele que estava indo para uma colônia de férias;

ele, no auge dos seus sete anos, chegou no conselho tutelar com sorriso de orelha a orelha.