pensando sobre a pressa sem a perfeição,
sai tudo rabiscado
no reboco,
mas sei lá, isso é meio vintage também.
né?
o mal feito, o mal acabado.
sou um rascunho cheio de força,
feito um furacão.
sangro em enxurrada.
esconderijo,
medo,
choro...
arrumo a casa para ver se a paz do ambiente faz morada aqui dentro
João Gomes canta no som e acaricia tudo aqui,
banho com vela,
carinho no gato,
promessa de paz.
seria hoje um domingo aflito?
suspiro fundo,
mas não sei se entendo o que passa aqui dentro.
deixo ás lágrimas cairem.
sensação de abandono.
medo de não conseguir dar conta do banal da vida.
coloca os não onde deve e vai.
nasci numa quarta-feira mas só fui conseguir chorar num domingo.
desde então me apaziguo no silêncio do domingo.
essa ausência de som organiza minhas moléculas, meu sentimentos, meus pensamentos.
consigo ver e sentir o mundo de outra forma e então suportá-lo.
seria fácil para a psiquiatria tradicional me diagnosticar e medicar.
eles fazem isso ao mínimo indício de desvio a dita normalidade.
afinal, o que é a normalidade? me diga você?
algumas terças-feiras já uso tampões nos ouvidos para fingir ser domingo.
meu corpo chora já ininterruptamente por sete dias durante o mês, sim, quase uma semana inteira esvaindo pelas minhas pernas, me causando dores, pensamentos de morte e terminando em um alívio rodopiantemente vermelho.
você já sentiu cheiro do seu próprio sangue? você já provou o seu próprio sangue?
eu choro sangue.
eu choro dor, alívio, desespero e um pedido desesperado por calma e paz – todo mês.
falar disso é um tabu pra você?
talvez eu devesse voltar meu olhar pra semana que vai começar ou até mesmo para o hoje, para o agora e por esse pequeno nó parado aqui na minha garganta. um choro pedindo socorro para sair?
o cid artista me faz assim: sensível demais. rindo muitas vezes quando não é para rir, chorando quando muitas vezes não é pra chorar, olhando muitas vezes para o que não é para olhar.
eu tento parar.
mas é mais forte que eu.
olha : tá acontecendo outra vez ! (atriz se atenta ao pequeno feixe de luz ao lado direito do palco que a faz lembrar de um riacho que fluía e um dia de extrema felicidade e faz seus olhos encher d’água ).
parece uma voz falando dentro da minha cabeça : vai, sái correndo, dança, rodopia, pode miar!
a vida está insalubre para gente que sente e então estamos todos medicados para evitar o extermínio.
show de horrores e comparativos no instagram/vida online : é vida ou é cena?
festa de superficialidade rolando nos bares, praças e encontros
bandejas de produtos todos imprescindíveis à vida servidos guéla a baixo
correria desenfreada na sociedade do sucesso que só serve fracasso
eu?
não tô tendo tempo para chorar
tem uma semana que não olho o céu
cadê o desejo?
o sonho já não existe.
agosto chegou e eu fiquei cansada...
sinto vontade de ficar quietinha em silêncio no sol,
respirando devagar, bebericando o café e sonhando longe.
falta férias, falta fôlego...
o que me faz sonhar?
deixa dormir, deixa desanimar,
devargarzinho, pé ante pé vou me restaurar.
deixa a menina sonhar...
talvez seja preciso viajar.
terminei de fazer uma visita domiciliar enquanto no entorno o movimento do tráfico pipocava,
me senti estranhamente parte daquilo,
olheiros, motos,
homens surgindo nos buracos dos muros ressabiados,
um certo ar de shopping oi, feira hippie e mercado central tudo ao mesmo tempo sabe?
tentava fingir normalidade, perguntava das atividades de vida diária do Sr Joaquim, media a porta do banheiro e construía orientações com ele e a filha,
enquanto ali no quintal que logo dava à rua tudo acontecia...
trabalhadora do SUS que fala.
domingo de manhã, ou carta aberta à Karina Buhr
aprendi a não jogar o amor no lixo.
me ame tanto!
me ame muito!
me ame muito, sim.
pois com amor eu aprendi a respirar melhor.
com os olhos e a alma afetados de amor,
eu existo numa inteireza bonita, sabe?
que agita, transforma, enfeita e eleva meu redor.
me amo tanto que até dói.
aprendi a amar também os meus defeitos.
às vezes, rasgo.
às vezes, erro.
noutras, comparo.
e, em muitas vezes, sangro.
mas amo. amo.
amo tanto.